quinta-feira, 27 de maio de 2010

Despedidas

Não sou fã de despedidas, acho que ninguém gosta muito disso. Mas, felizmente, porque apesar de tudo tenho boas razões para isso, estou me despedindo do Porto. Daqui a exatamente 7 dias vou para Dublin, essa não é a melhor razão do felizmente, apenas uma delas.

Gostei bastante do tempo que fiquei por aqui. Estudei muito, trabalhei muito, fiz amigos, bebi vinho e Super Bock, ouvi e conheci músicas novas, livros, poesias, visões, idéias. Conversei sobre os assuntos mais inesperados com pessoas mais inesperadas ainda, uma loucura que somou. Observei, observei, observei. Falho em não ter relatado aqui o que vi, ouvi e senti, tudo em detalhes, porque esses são importantes, mas ainda os guardo na memória. Ainda quero falar sobre isso, é bom partilhar essas coisas, elas me fizeram refletir e crescer bastante.

Foram nove meses em Portugal, houve o tempo da adaptação, o da saudade enlouquecedora que julgamos ter aprendido controla-la, o das descobertas, das decepções e das realizações. Li bastante sobre muitas coisas, coisas essas que me fizeram mudar o rumo do meu projeto final que já estava iniciado. Mas, faz parte. Hoje sinto que amadureci idéias, planos e metas.

Já me despedi de algumas pessoas que não sei se verei mais na vida, sei somente que as prosas foram ótimas e que o tempo foi gasto da melhor maneira possível. Um brinde aos amigos!

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Tu disseste

Tu disseste: "quero saborear o infinito"
Eu disse: "a frescura das maçãs matinais revela-nos segredos insondáveis"
Tu disseste: "sentir a aragem que balança os dependurados"
Eu disse: "é o medo o que nos vem acariciar"
Tu disseste: "eu também já tive medo, muito medo. Recusava-me a abrir a janela, a transpôr o limiar da porta"
Eu disse: "acabamos a gostar do medo, do arrepio que nos suspende a fala"
Tu disseste: "um dia fiquei sem nada. um mundo inteiro por descobrir"
Eu disse: "..."

Eu disse: "o que é que isso interessa?"
Tu disseste: "...nada"

Tu disseste: "agora procuro o desígnio da vida. às vezes penso encontrá-lo num bater de asas, num murmúrio trazido pelo vento, no piscar de um néon. escrevo páginas e páginas a tentar formalizá-lo. depois queimo tudo e prossigo a minha busca"
Eu disse: "eu não faço nada. fico horas a olhar para uma mancha na parede"
Tu disseste: "e nunca sentiste a mancha a alastrar, as suas formas num palpitar quase imperceptível?"
Eu disse: "não. a mancha continua no mesmo sítio, eu continuo a olhar para ela e não se passa nada"
Tu disseste: "e no entanto a mancha alastra e toma conta de ti. liberta-te do corpo. tu é que não vês"
Eu disse: "o que é que isso interessa?"
Tu disseste: "...nada"

Eu disse: "o que é que isso interessa?"
Tu disseste: "...nada"

Mão Morta.

segunda-feira, 3 de maio de 2010