domingo, 24 de janeiro de 2010

Nego Drama

Sem palavras...

Nego drama, entre o sucesso e a lama
Dinheiro, problemas, inveja, luxo, fama
Nego drama, cabelo crespo e a pele escura
A ferida a chaga, a procura da cura

Nego drama, tenta vê e não vê nada
A não ser uma estrela, longe e meio ofuscada
Sente o drama, o preço e a cobrança
No amor, no ódio a insana vingança

Nego drama, eu sei quem trama e quem tá comigo
O trauma que eu carrego pra não ser mais um preto fudido
O drama da cadeia e favela
Túmulo, sangue, sirene, choros e velas

Passageiro do Brasil, São Paulo, agonia
Que sobrevivem em meia zorras e covardias
Periferias, vielas e cortiços
Você deve tá pensando: o que você tem a ver com isso?

Desde o início por ouro e prata
Olha quem morre, então, veja você quem mata
Recebe o mérito a farda que pratica o mal
Me ver pobre, preso ou morto já é cultural

Histórias, registros, escritos
Não é conto nem fábula, lenda ou mito
Não foi sempre dito que preto não tem vez, então?
Olha o castelo. Não foi você quem fez, cuzão!

Eu sou irmão dos meus truta de batalha
Eu era a carne, agora sou a própria navalha
Tim-Tim! Um brinde pra mim!
Sou exemplo de vitorias, trajetos e glorias

O dinheiro tira um homem da miséria
Mas não pode arrancar de dentro dele a favela
São poucos os que entram em campo para vencer
A alma guarda o que a mente tenta esquecer

Olho pra traz e vejo a estrada que eu trilhei, "moo coca"
Quem teve lado a lado e quem só fico na bota
Entre as frases, fases e varias etapas
De quem é quem, dos manos e das minas fraca

Nego drama de estilo
Se é pra ser e se for, tem que ser, se temer é milho
Entre o gatilho e a tempestade
Sempre a provar que sou homem e não um covarde

Que Deus me guarde pois eu sei, ele não é neutro
Vigia os rico, mais ama os que vem do gueto
Eu visto preto por dentro e por fora
Guerreiro, poeta entre o tempo e a memória

Ora, nessa história vejo o dólar e vários quilates
Falo pro mano que não morra, e também não mate
O tic-tac não espera, veja o ponteiro
Essa estrada é venenosa e cheia de morteiro,

Pesadelo, é um elogio
Pra quem vive na guerra, a paz nunca existiu
No clima quente a minha gente soa frio
Vi um Pretinho seu caderno era um Fuzil

NEGRO DRAMA,
Racionais MC's

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Dias

Há dias, há muitos dias ainda, tantos que sufocam, tantos, que me enlouquecem.

A cidade está deserta,
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte:
Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas.
Em todo o lado essa palavra
Repetida ao expoente da loucura!
Ora amarga! Ora doce!
Pra nos lembrar que o amor é uma doença,
Quando nele julgamos ver a nossa cura.

Poema retirado da música "Ouvir dizer" de Ornatos Violeta.